quarta-feira, 21 de março de 2012

Meio-cheio ou meio-vazio?

Percebi que fazia um bom tempo que não postava nada aqui, não tive inspiração até hoje. Comecei o dia bem, fui fazer a prova teórica para tirar minha carteira de motorista e fiz o exame mais ridículo da minha vida. Fui bem e quando saí de lá estava empolgada para contar para a minha mãe sobre o resultado.
Como aparentemente é difícil eu conseguir aproveitar algo na minha vida por mais de 5 minutos, cheguei em casa e recebi uma notícia que quebrou mais um pedaço de mim e destruiu toda e qualquer empolgação.
O status atual do câncer da minha mãe é: câncer no fígado com metástase no pulmão e em 2 vértebras da coluna vertebral.
Como se isso não fosse o suficiente, hoje tive a notícia de que existe uma probabilidade da minha mãe perder o movimento das pernas. O tumor na coluna está pressionando a vértebra L4.
Sinceramente, eu não sei o que sentir. Acho que chega uma hora onde o cansaço fisico e acima de tudo mental e emocional, começa á nos enlouquecer. Há um ano atrás eu tinha o essencial, e agora sinto que estou perdendo tudo.
Minha mãe toma doses cavalares de morfina para a dor que ela sente na perna (reflexo da pressão na vértebra) e nem isso adianta, já assisti ela chorando de dor várias vezes, apesar de sempre se controlar.
Sinto como se a doença fosse uma tortura. Como se fossêmos obrigadas a sentar e assistir minha mãe se esfarelar. Cada ida ao médico, cada tomografia, cada exame é uma ansiedade nova, uma noite mal dormida. Já vi muita coisa de um ano para cá, coisas que achei que não conseguiria mas consegui, mas ainda ter que assistir isso? Com qual estabilidade emocional é para eu sair dessa doença, conseguir viver minha vida?
Durante esse período ruim, juro que me esforcei para encontrar levezas na nossa situação. Acho engraçado o jeito que minha mãe faz piada com a doença de vez em quando, me pego em situações onde, por ter uma mãe com câncer não sei o que fazer.
Outro dia mesmo, fui até a farmácia e minha mãe me ligou dizendo que precisava de shampoo. Quando parei em frente á prateleira, comecei a rir.
Como e qual shampoo eu compro para uma pessoa sem cabelo? "Para cabelos ressecados", "para pontas duplas", "hidratação intensa". Diante dessa dúvida, resolvi simplesmente pegar o mais cheiroso, mas achei muito engraçada a situação.
Minha mãe é uma pessoa que consegue muitas vezes trazer leveza para tudo isso. Ela transforma uma tonelada em uma grama em questão de segundos. Tiro forças não sei de onde ao ver o jeito que ela lida com tudo, não consigo expressar.
Tirei a idéia de começar a escrever esse blog porque ela também tem um. É incrível o humor que ela usa para falar de um assunto tão delicado. Inclusive é tão incrível que até o Reynaldo Gianecchini  já leu o blog dela e disse que adora, acha admirável o fato dela se abrir, ser bem-humorada diante da doença. Como uma pessoa que é tão admirada tem que passar por tudo isso? Por tanta dor? É algo além da minha compreensão e que me gera uma certa ira. Ira porque coisas tão horríveis acontecem com uma pessoa tão iluminada, ira porque o mundo e a vida são injustos, ira porque existem traficantes na favela que moram em mansões no bem-bom enquanto há pessoas com cãncer que dormem em baixo de pontes para poder pagar o próprio tratamento.
Não sei como a Bíblia fala em fé, em otimismo quando há TANTOS motivos para jogar tudo para o alto, quando simplesmente a vida é uma maratona de dor, uma após a outra. Realmente precisa ser forte para ser otimista diante de um buraco negro, mas há pessoas que conseguem, como a minha mãe. Ao invés de pensar em tudo de ruim que lhe acontece, ela foca em tudo de ruim que PODERIA ACONTECER com ela e que não acontece. Ela fica brava porque eu e minha irmã ficamos nos perguntando 'somos gratas ao que?', mas para um jovem é muito duro e pouca vivência para ter tanta fé assim, para conseguir entender sem se revoltar. Admito, fico muito feliz que ela consiga ser assim, muito mesmo.
Claro, sou grata porque sei que a situação podia sim ser pior, mas até gratidão tem limite. Acho que nessas horas, a frustração e raiva de não poder fazer nada meio que nos cega.
Espero que eventualmente eu consiga ver o copo meio cheio ao invés de meio vazio.

2 comentários:

  1. Difícil falar algo que possa te acalmar e tirar a sua ira. Muitas vezes em situações parecidas, em que eu não via saída em cuidar da minha Mãe e do meu Vô e escolher uma carreira em que moraria longe dos dois, eu citava um trecho de uma música da Cássia Eller, "Deus é um cara gozador". A gente não entende, fica bravo, acha que não tem explicação mas no fim, só há a certeza de que se essa missão foi confiada à você, é pq você dá conta. Palavras e atitudes negativas só atraem coisas ruins, irradiar alegria nesse momento é uma das coisas principais, por mais difícil e doloroso que seja.

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  2. Minha linda, qdo li só ouvia a sua voz...Realmente sua mãe esta fazendo vocês serem felizes,brincando sobre o ""Shampo"",Ela é demais, mesmo nesta situação ela demonstra no fundo fundinho que vcs podem ser felizes e brincarem nas horas mais difíceis. Não sei o que falar mas o que conheço da sua mãe é que ela quer sempre ver você e sua irmã felizes!!! Então vamos aproveitar e rir de tudo!!! Viva a Lela...

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