quarta-feira, 7 de março de 2012

Perdendo o Controle

Já deixei bem claro aqui que o câncer é uma montanha russa. Um dia está tudo bem, minha mãe está se sentindo ótima e é tudo um alívio, no outro ela mal consegue sair da cama, ver ela passar mal ou com dor é a pior agonia do mundo, é um sentimento de impotência. A doença corta qualquer barato a qualquer hora, ela não escolhe o lugar, o momento. Não interessa se sua noite foi sensacional, se você riu e se divertiu ao extremo, no fim você chega em casa e leva um soco na boca do estômago, e você só tem que aceitar que levou o soco e que estava despreparada.
Um traço muito forte da minha personalidade é que eu não gosto de perder o controle. Não gosto, simples. Inconscientemente eu acho que consigo controlar o que as pessoas pensam, o que elas vão fazer, o que é o 'certo' e o que é o 'errado'. Me deixo levar por esse constante medo de fazer algo errado, de dar desgosto para a minha mãe (porque sei que ela não merece). É muita besteira pensar isso, e ela também acha ridículo porque em momento algum ela me pediu isso, ela me pediu que eu fosse feliz.
Analisando agora acho que foi isso que me levou á esse desespero constante. Eu sempre achei que tinha controle sobre tudo mas então eu me deparo com esse lado que eu não consigo controlar: a doença, a morte. Não lido bem com morte, eu não sei o que é, não consigo compreender esse conceito de que um dia a pessoa está aqui e no outro não está. Ainda sofro muito com todas as mortes de pessoas próximas á mim, meu avô há 9 anos, minha cachorra á quase 1 ano e mais recentemente, a da minha avó.
Chocantemente eu tenho muito medo de tudo que está fora do meu controle. Tenho medo de mar, onde não conseguimos controlar o que ele vai fazer, se uma onda gigante vai se fomar e te levar pra longe. O escuro, onde não conseguimos ver o que está á nossa volta, não temos como, não sabemos se vamos esbarrar na cama, não podemos prever. Tenho muito medo também de assaltos, que nos pegam de surpresa sempre e é uma situação que nao está nas suas mãos, está nas mãos do assaltante. Meu último medo são raios. Odeio o barulho, o susto, não saber que horas ele vai cair, quando ele vai cair.
Eu odeio não estar preparada. Agora eu lhe pergunto: aonde eu me seguro, nesse momento tão crucial da minha vida que o chão parece estar despedaçando? Sei que tenho meus amigos, minha família. Mas a primeira mão que eu segurei nesse mundo, na cama de um hospital, foi a da minha mãe. A mão que me dá a certeza de que eu não vou cair é e sempre foi a dela.
Agora um medo maior surgiu, não o medo da doença, mas o medo de perder minha melhor amiga. Ás vezes é difícil admitir pra mim mesma que eventualmente isso vai acontecer, mas nao é assim com todos nós? Uma hora todo mundo morre. Não sei se eu vou atravessar a rua amanhã e ser atropelada. Isso é o 'perder o controle' e acho que é por isso que eu não lido bem com morte ou com a doença da minha mãe. Eu não sei perder o controle.
Outro dia fiquei sabendo de uma história curiosa. Provavelmente todos já ouviram falar em Jó (escravos de Jó, paciência de Jó). Pois é, o Jó era alguém! Na verdade ele era um dos discípulos. O Jó era o cara que sempre fazia tudo certo. Ele não se divertia, era correto, íntegro. Ele era o cara que limpava a casa depois das festas, o cara que não fazia nada por vontade própria, ele fazia porque era o 'certo'. Um belo dia uma coisa muito ruim aconteceu na vida do Jó e ele foi tirar satisfação com Deus. "Eu faço tudo certo, me desvio do mal e o Senhor me manda isso?". Era isso que Jó esperava, um tipo de recompensa. "Mas eu não quero que você faça o correto, quero que você faça o que lhe faz feliz", disse Deus.
A grande moral da história é que eu sou o Jó em pessoa. O que mais me assustou é que eu fui pesquisar sobre o Jó e fiquei sabendo que ele morreu com ÚLCERAS MALIGNAS. Já disse em um post anterior: tive 3 úlceras ano passado. Claro, naquela época não existia Omeprazol, mas enfim.
A conclusão é que algumas vezes na vida vamos perder o controle. Conforme vamos crescendo somos obrigados a lidar com coisas que muitas vezes não vamos entender, não vamos conseguir controlar, não conseguimos fugir. Achar que eu consigo controlar tudo só vai me deixar mais frustrada quando eu me deparar com coisas incontroláveis.
Estou aprendendo agora o que é finalmente perder o controle. Estou aprendendo que eu preciso viver a MINHA vida, não posso enlouquecer por causa dessa doença, preciso começar a aprender a cuidar de mim mesma, a ser feliz POR MIM, fazendo o que EU quero. Preciso parar de viver em função do câncer. De vez em quando preciso sair, preciso dançar, enfim, preciso perder o controle.

Nenhum comentário:

Postar um comentário