terça-feira, 3 de maio de 2016

Hello, old friend.



Depois de muito tempo a zelar por mim mesma em uma zona particular, estou aqui para uma postagem única.
São 00:08 de uma segunda-feira e venho por meio desse tentar encontrar conforto para os meus pensamentos.
As últimas duas semanas foram conturbadas e delas cheguei a uma única conclusão: a percepção das pessoas em relação a tudo é construída e falsa.

Ninguém tem obrigação com ninguém e no fim todo mundo faz o que quiser. A parte difícil é quando envolve outra pessoa. E aí? Faz como? Como harmonizar um pensamento com alguém que foi criado diferente de você, tem sua própria personalidade, gostos, orgulhos e sentimentos? Parte de você se importar ou não com o próximo. Parte de você entender que se você se importa com alguém, a consideração é tudo. Pra mim, consideração é colocar o outro no mesmo lugar no pódio que você, com quase a mesma prioridade. Se colocar no lugar da pessoa, não fazer com o outro o que você não quer que façam com você.

Todo mundo pode ligar o foda-se a qualquer hora, não pensar em ninguém e vomitar tudo o que está pensando. Assim fica fácil! Mas e quando a lágrima cai? Quando a palavra fere? O grito corta? E pra voltar atrás? E quando o dano está feito?

 Você e quem você ama, seja quem for, devem ser duas coisas entrelaçadas que não anulam uma a outra, mas sim se tornam mais forte. Uma força da natureza.

Tenho visto muita gente - não me excluo deste grupo - sendo atropelada por orgulho, falta de consideração e respeito. Gente por aí esquecendo que sempre existem DOIS lados e se a guerra não terminou com você sangrando, é o outro quem ficou no chão.

Com isso, desacreditei um pouco da humanidade. Pensei como era possível esses sentimentos que são tão válidos quanto qualquer outro (orgulho, egoísmo..) serem tão destrutivos.

Parei, saí, e reservadamente fui buscar minha esperança que, por um breve momento, fugiu. Claro, é ótimo ser beijado, abraçado e mimado, mas isso é muito óbvio..... Não fui procurar essas demonstrações banais e fáceis de amor.

Você já trocou olhares com alguém e sentiu calor? Conforto?

Alguém já te trouxe um doce de uma viagem e aquele simples gesto te fez sentir querido?

Ou sentou do seu lado em silêncio quando você estava triste só pra estar lá com você?

Ou propôs fazer uma atividade que a pessoa odeia mas ela sabe que você ama, só pra te animar?

E quantas vezes já te disseram aquele "me avisa quando chegar em casa"?

Ou até um "lembrei de você..."

Porque comigo sim, e isso fez o meu coração sentir um calor que não é qualquer "te amo" que faz sentir. Isso que me apetece, o amor sutil casado com a consideração. Aquele gesto que te derrete.bo famoso clichê de que "falar é fácil, quero ver fazer".

Meu conselho é: faça. Dê a quem você ama o amor, consideração, respeito e carinho com que você também quer ser tratado. Preste atenção em como fala com quem você ama, é o jeito que você gostaria que falassem com você?

Comecei a reparar isso em volta de mim e acabei achando. Achei minha esperança em meio à descrença de um mundo consumido pelo medo, pela falta de entrega e cegueira acerca dos pequenos detalhes que fazem toda e qualquer relação da vida, linda.

Obrigada pelo consolo, fico por aqui para voltar só Deus sabe quando.....


JDS

sábado, 11 de maio de 2013

Feliz Dia das Mães


Aqui estou eu, sentada na minha cama em plena véspera de Dia das Mães, literalmente olhando para a parede. Acho que de todas as datas das quais eu teria que lidar com a ausência da minha mãe, essa era a que eu mais temia. Parei então para pensar o que eu posso tirar de bom do dia de amanhã, porque cá entre nós o meu tem tudo pra ser uma (perdão) merda.

Não precisei pensar muito para chegar á conclusão de que devia escrever isso para as diversas mães que eu tenho na minha vida, que se mostraram tão incríveis e compreensivas, então..

Queridas mães dos meus amigos e amigas,

Estou lhes escrevendo esse texto para agradecer. Agradecer do fundo do meu coração pelas pequenas coisas que vocês nem devem saber, mas que pra mim tem TANTA importância. Para começar, o constante abuso dos seus filhos. MUITO obrigada por deixar eu ser mala e visitar eles no meio da semana, por deixar que eles almocem comigo, que passem a tarde comigo em plena semana de aula. Que fiquem até tarde na minha casa, ou que eu fique até tarde nas casas de vocês em dias que no dia seguinte, eles vão ter prova. Obrigada por permitir que eles larguem as tarefas deles para me socorrer quando eu preciso, e devo admitir que preciso muito (daí vem a palavra ‘abuso’). Por deixar eles viajarem comigo, ou ‘morarem’ comigo por 1 semana, ou por eu ir ás suas casas todo o santo dia, só para eu me ocupar. Queria agradecer cada abraço mais apertado que vocês me deram, cada olhar gentil, cada sorriso caloroso. É estranho como é possível, nem que seja por um momento, notar aquele instinto maternal que todas vocês possuem e utilizam tão bem. Também muito obrigada por me ouvirem, por me compreenderem, por tentarem me auxiliar das formas mais maternais e delicadas do mundo. Obrigada por todos os ‘qualquer coisa liga’ que a grande maioria de vocês solta quando estou de saída. Obrigada por todos os pensamentos positivos que todas mandaram nos períodos em que minha mãe estava hospitalizada, sei que foram muitos. Obrigada por todas as orações, por todos os minutos em que, em forma de pensamento, minha mãe surgiu por um leve segundo nas suas cabeças.

Obrigada também as mães das amigas e amigos da minha irmã, obrigada por acolherem ela quando eu mesma não sabia como a consolar.

Finalizando: obrigada por vocês terem criado filhos tão maravilhosos, que me deram e me dão tanta força até o dia de hoje. Saibam que esse carinho e amor que recebo deles é o que me fortalece todos os dias. Parabéns pelo dia das mães, e vocês merecem um dia só de vocês por serem essas mães e pessoas incríveis, e por terem criado filhos que, com toda certeza, herdaram essas qualidades incríveis que eles tem, de vocês.

Beijos e um bom Dia das Mães.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Saudade

Saudade

Sinto falta do seu sorriso, da sua voz, do seu abraço. Não só sinto falta dessas coisas clichês, mas sinto falta de tudo que fazia de você, VOCÊ.
Sinto falta dos nossos domingos pedindo América e comendo enquanto assistíamos filmes da Disney. Sinto falta esforço que você fazia para atender essa minha insuportável carência.

Sinto falta da sua falta de paciencia de ficar sentada na mesa conversando depois de terminar um almoço, e mais ainda de quando você fazia esse almoço. Sinto falta das infinitas tardes que ficávamos jogando Craddle of Rome, do quão feliz você ficava de passar de nível que até me ligava pra avisar. 
Sinto falta de como qualquer situação perto de você, por mais pesada que fosse, era transformada em uma coisa mais leve que uma pena, mesmo que o vento não pudesse nem move-la alguns centímetros.

Sinto falta de você me pedindo conselhos de roupas todo santo dia. Sinto falta de ir te dar bom dia e você sempre estar passando o delineador nos olhos
Sinto falta de você cantando pela casa, mal, devo acrescentar, mas feliz.

Sinto falta de você me tirando sarro da minha cara porque eu te falava 70000 'te amo' por dia. Sinto falta do quão eu bem eu dormia depois do seu abraço de boa noite.

Sinto falta de você misturando inglês com português, pouco ligando pro que as pessoas achavam ou sequer entendiam.
Sinto falta de como você olhava pra todo mundo antes de olhas pra si mesma, e apesar de saber que isso foi sua ruína, sou a filha mais orgulhosa do mundo. 

Sinto falta da sua praticidade para as coisas, nada com drama, sempre pensando na solução e não no problema.
sinto falta das suas frases de efeito que você repetia pelo menos 5 vezes por dia.. "shit happens!"
Sinto falta de ir dormir sempre com uma lição nova. Sinto falta  de você secando meu cabelo quando
eu tinha preguiça.
Sinto falta  das nossas idas á Liberdade pra comer que nem rainhas nos restaurantes de quilo de lá! 
Sinto falta de você me chamando de draga porque eu como muito.
Sinto falta de você fazer cócegas em mim pra me encher o saco.

Sinto falta de quando você fazia quebra-dedos comigo, e quando só largava depois de eu me contorcer muiiito pedindo pra parar.
Sinto falta do jeito que você me imitava pras pessoas, de como me chamava de Barbie Festa e a Sté
de Barbie Praia.

Sinto falta de acordar em Caraguá e não te encontrar em lugar algum da casa,  sabendo que você já
estava na praia desde as 7 da manhã
Sinto falta da quantidade de vezes que você disse que é besteira eu ter medo de mar, e de quantas vezes você já tentou me levar pra nadar.

Sinto falta da sua felicidade, da sua vida. 
Sinto falta de acordar 10 da manhã e ver você enchendo sua garrafeira na cozinha toda esportista se gabando que tinha dado 3 voltas no parque.
Sinto saudade do quanto batalhava pra ter alguma coisa, e especialmente pra dar pra mim ou para a
Sté.

Sinto saudade de ouvir a porta do elevador abrindo e pensar 'a mamãe chegou'
Sinto saudade do quão presente você foi na vida da gente, de como você é um exemplo de mãe. Sinto falta de você rindo de mim quando eu acordava e não conversada porque estava com sono, e você lá falando "relaxa, ela só acorda depois das 11"

Sinto falta da sua delicadeza, da paz que você passava pra todo mundo. Sinto falta do seu colo que eu tanto preciso agora e não tenho. Sinto falta de como eu nunca me sentia sozinha com você por aqui, isso é muito diferente e ainda preciso me acostumar.

Sinto falta de você me ligando pedindo pra eu dar notícias, o boletim completo. E te discar seu número e ver sua foto aparecendo.

Sinto saudades de perguntar qual esmalte ia ficar bom, e você falando que eu tinha que cortar minha 'juba de leão', meu cabelo.


Eu poderia escrever pra sempre tudo que eu sinto falta, mas no fim das contas o que eu mais sinto falta é de VOCÊ.

Espero que você esteja maravilhosa aí em cima, assim como sempre foi aqui em baixo. 
Te amo pra sempre mãe.

terça-feira, 12 de junho de 2012

É o que temos pro momento

Eu sempre disse que não existe prova de amor maior do que chorarem por você, e nunca achei que chorariam por mim. Quando paro pra tentar lembrar do enterro, vejo todos os rostos á minha volta com olhos inchados, cara vermelha. Não via lágrimas de tristeza, via lágrimas de amor, de carinho, de preocupação, vocês não sabem o quanto isso me acomodou, saber que se importavam comigo e que choravam pela minha dor. Recebi mensagens de pessoas falando o quanto choraram com o meu último texto e quero pedir desculpas! não queria fazer ninguém chorar!  Escrevo todos esses textos pra mim mesma, como um arquivo pessoal, e quem me obrigou á publicá-los foi minha mãe. Nem penso direito que outras pessoas além de mim lêem meus desabafos. Querem culpar alguém culpem ela! Haha..

Enfim, resolvi vir aqui para contar um pouco de como tem sido nossa vida por enquanto. Eu e minha irmã estamos reaprendendo á viver. É até engraçado porque somos quase casadas. Eu cuido da casa, faço comida, vou ao supermercado e minha irmã cuida das coisas burocráticas das quais eu não quero participar. Quem diria que os domingos que passei observando minha mãe inspiradíssima na cozinha viriam á calhar agora, junto com o livro de receitas que nós estávamos fazendo. Caçoava tanto ela que acabei pegando essas inspirações loucas dela pra mim!

Claro, até agora não posso dizer que fiz grandes coisas. Não passei do básico. Arroz, strogonoff, creme de milho, frango.... Coisas fáceis que minha mãe sempre fazia e eu por tabela acabei aprendendo a fazer, eu chego lá!

Ainda é estranho para nós duas. É estranho chegar tarde e não termos nossa mãe para avisar que chegamos. É estranho deixar de fazer coisas que eram da nossa rotina como ligar para ela pra saber como estava o dia, e avisar aonde estávamos. Ás vezes até me pego segurando o celular para ligar pra minha mãe. Sei que uma hora isso passa, sei que uma hora vamos nos acostumar.

Ter liberdade e ter apenas minha consciência e princípios para me impor limites é muito estranho. É bom, mas ao mesmo tempo é como se eu me visse “jogada” no mundo. Sei que tenho minha irmã para me proteger, meu pai e minha família toda. O fato é que não tenho mais aquela asa materna para me esconder quando preciso, aquele conselho que era quase um oráculo, a solução de tudo.

Diante disso, converso bastante com a minha irmã e ela me diz que ás vezes ainda sente a mamãe. Fico feliz de saber isso. Sou bem menos religiosa agora do que era antes (não me culpem, tenho o direito) e fico feliz que alguma coisa ainda consiga passar por cima desse meu semi-ateísmo recente e revoltado, fico feliz que ainda consigo acreditar pelo menos, que minha mãe está com a gente. Acreditem ou não, não gosto de ter ficado assim e espero poder voltar a ter fé, coisa que minha mãe desde que éramos pequenas, introduziu tando na nossa formação.

Eu não falo muito, mas também sinto minha mãe comigo. É engraçado porque em muitas situações escuto a voz dela na minha cabeça falando exatamente o que ela falaria se estivesse aqui. Ouvi a voz dela quando fui no supermercado pela primeira vez sem saber quase nada, qual marca comprar ou até o que comprar. Sinto a mão dela segurando a minha na hora de dormir, quando agarro o anel dela no meu colar. Escuto minha mãe rindo de mim aprendendo as manhas na cozinha, derrubando panelas e deixando as coisas queimarem, ela deve estar se divertindo com a gente nessa vida nova! Desperate Housewives da vida real.

Admito que alguns dias tem sido mais difíceis. Tem dias que eu me sinto vazia, sem vontade alguma de me levantar. O fato de meu aniversário estar chegando também não ajuda em muita coisa. A grande realidade, e vou repetir isso diversas vezes até grudar na MINHA cabeça, é que preciso pensar que minha mãe está bem. É tudo o que nós queríamos. Não posso deixar meu egoísmo me dominar, me apegar tanto ao físico. Não vejo minha mãe mas ainda escuto sua voz, sinto seu toque e a vejo em mim e na minha irmã. Quero ter novamente a alegria nos meus olhos que minha mãe pediu. Preciso começar a praticar isso, que é quase tão difícil quanto dar os primeiros passos, mas sei que eventualmente vou conseguir.
 Minha irmã me ajuda bastante. Não sei porque mas não consigo chorar perto alguém que não seja ela, apesar de sentir vontade o dia inteiro. Ela conversa comigo, fica comigo nos dias em que estou pior e faz de tudo para me agradar. Segura minha mão com a mesma força que segurou no dia do velório antes de eu entrar naquela sala. Me dá toda a segurança do mundo, a segurança que minha mãe me dava. Sei que ela está sofrendo, e me deixa muito triste que eu não consiga ajudá-la, mas estamos nos levantando pouco a pouco.

Já falei pra Sté, não vou desaprender a ser filha, não consigo suportar a idéia de ser completamente livre, me sinto meio desamparada,então satisfação pra alguém eu preciso dar! E essa pessoa vai ser ela! Vai fazer jus ao papel de irmã mais velha mais do que já está fazendo.

Estamos nos virando, afinal já dizia a minha mãe: É o que temos pro momento.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

From Super-Hero to Super Angel

Achei que nunca mais escreveria nesse blog. Esse último mês da minha vida foi tão obscuro, tão cego e sem sentidos e ao mesmo tempo tão cheio de emoções. Não sei como começo a falar sobre isso, porque ainda em voz alta me dói ouvir tais palavras. Nesse último sábado, dia 19 de maio, o céu ganhou mais uma estrela.
Minha amada mãe faleceu.
Estou dormente, anestesiada. Relembrando esse último 1 ano e meio, conversei abertamente á respeito de morte com a minha mãe, perguntava se ela tinha medo de morrer, se ela achava que fosse morrer. As respostas sempre eram as mesmas, com os olhos marejados de lágrimas: "Daria tudo para ver vocês crescerem, mas é o que temos pro momento". Tive a chance de ouvir da boca da minha mãe como seria quando ela morresse, que ela com certeza sempre que pudesse ia aparecer em sonhos pra gente, e que não era pra ninguém ficar jogada no chão se descabelando porque não foi isso que ela ensinou.
Esse último mês foi horrível e lindo ao mesmo tempo. Tive a oportunidade de ver como minha mãe é um ser iluminado, como ela conseguia fazer o ambiente mais pesado do mundo leve como uma pena. Ela fazia o dia de todos os funcionários do hospital melhor, sabia o nome de todos e sempre oferecia uma coisinha para eles comerem (e por 'coisinha', le-se 'quiosque de doces') quando iam ver 'se ela ainda estava viva', como ela mesma dizia.
A coisa mais dura da minha vida foi ter que ver minha mãe chegar no estado em que ela chegou. O sentimento mais devastador do mundo foi ficar sentada assistindo, sem poder fazer absolutamente nada. Minha mãe aos poucos foi se apagando diante dos meus olhos.
Devido á grande quantidade de remédios que ela estava tomando nessa última semana, grande parte do tempo ela passava meio grogue, e ainda sim conseguia fazer todos ao seu redor rirem.
Em um dia em especial, uma amiga dela pediu que entregassem comida japonesa no hospital, foi o melhor almoço que já tive na minha vida. Eu, minha irmã e minha mãe, comendo japonês e nos divertindo com a minha mãe groguinha colocando os palitinhos na cabeça fingindo ser uma gueixa.
Nessa última semana da minha mãe, nunca me senti tão morta por dentro. Mal dormia, não tinha vontade de comer, apenas tomava Coca-Cola porque era líquido e era o que conseguia passar pela minha garganta. Eu já tinha entendido o que estava prestes a acontecer, mas não havia aceitado.
Na quinta-feira á noite, o médico veio até o quarto e nos disse que nas próximas 24h minha mãe iria embora.
Não consegui reagir de outra maneira além de segurar a mão dela enquanto ela dormia no sono mais profundo, e começar a chorar. Parecia que tinham tirado uma coisa dentro de mim do jeito mais bruto possível. Meus primos chegaram logo depois, e minha mãe acordou. Por incrível que pareça, tivemos a genial idéia de começar a tirar fotos. Não me pergunte o porque, já que todo mundo estava com a cara mais inchada e de choro do mundo. Minha mãe sorriu em todas as fotos, mesmo mal tendo força para deixar seus olhos abertos. Nos divertimos, rimos, amamos.
Naquela noite me despedi, não conseguia mais ficar lá, não iria conseguir voltar. Me despedi da minha mãe, disse que á amava. Ela, com os braços trêmulos, pediu um abraço. Me curvei e apertei ela como se estivessem cortando um membro meu fora.
Ela apenas me disse que queria ver 'alegria nos meus olhos de novo'. Fiz questão de deixar claro que ela foi a melhor mãe do mundo, a melhor que alguém pode ter. O imenso orgulho que eu sentia dela. Á abracei, virei as costas e fui embora.
Em uma conversa que tive com a minha tia de consideração, ela me perguntou se eu não achava que minha mãe estava com medo de ir por preocupação comigo. Nunca tinha pensado daquele jeito. Aquilo ficou martelando na minha cabeça.
No dia seguinte, estava decidida á não ir mais no hospital, não queria ver minha mãe morrer, não ia suportar essa imagem na minha cabeça.
Como sempre fazia, liguei para a minha irmã (que foi um anjo pra mim esses dias, dormiu no hospital e não queria que eu ficasse lá pra não ver minha mãe daquele jeito) e perguntei como estava minha mãe. Ela pediu pra falar comigo e pegou o celular da mão da minha irmã. Com uma voz bem grogue, ela perguntou se eu iria ao hospital naquele dia. Impossível eu falar que não. Ainda mais depois ela ter dito que ia me esperar acordada. Fui para o hospital na sexta-feira e tive que me despedir mais uma vez da minha mãe. Não consegui me conter e chorei, mas chorei muito. Ela me abraçou e disse que não queria que nos despedíssemos daquele jeito, comigo chorando. Com aquilo que minha tia grudado na minha cabeça, disse que não tinha problema dela ir embora, que eu iria ficar bem por causa das coisas que ela havia me ensinado, por causa DELA. Ela me deu um abraço forte, disse que me amava muito e que fui a melhor filha que alguém pode ter. Ajudamos ela a tirar o anel que ela sempre usava no dedão, que ela comprou quando eu tinha 7 anos no aeroporto. O anel possui 3 estrelas, que ela sempre dizia que eram eu, minha irmã e ela. Ela nos deu o anel e pediu que deixássemos em um lugar que não fosse cair. Está em um colar no meu pescoço.
Em um desses posts, disse que toda vez que eu saía do hospital, parecia que deixava um membro lá. Esse dia eu deixei meu coração inteiro.
No sábado á tarde, havia saído para comprar coisas para almoçar no Pão de Açúcar, e quando voltei pra casa, entrei no quarto da minha mãe, deitei na cama e comecei a chorar. Meus lindos amigos vieram me acudir, ficar comigo, mesmo que em silêncio.
Chorava porque ia perder minha heroína, minha melhor amiga, minha essência. Chorava porque achava injusto depois de tudo o que passamos juntas, iria perder minha mãe. Chorava por medo de como seria, por angústia, por desespero.
Depois de 15 minutos, meus amigos me puxaram para a mesa do almoço e depois da segunda garfada, minha prima me ligou. Quando atendi o telefone, ela disse 'Jé? Oi.... ela foi embora'.
Não consegui reagir, perdi a força no corpo e deixei o telefone cair da minha mão. Abracei minha cabeça e chorei desesperadamente. Nunca senti tanta coisa junta na minha vida.
Fiquei com falta de ar, raiva, dei socos na janela e no armário, perdi o controle.
Depois disso fiquei em estado quase que catatônico. Domingo tivemos o enterro.
Nunca achei que o dia em que enterraria minha mãe estaria tão perto.
Cheguei atrasada e quando o padre começou a rezar, mal consegui me manter em pé, meu tio me segurava. Só consegui olhar as fotos que estavam postas no caixão, fotos da minha mãe linda, comigo, com a Sté, com a família. A foto que estava no topo do caixão? A minha e dela.
Comecei a sentir minhas pernas bambas e me recusava a desmaiar, então fui até o banco lá fora e pedi que me deixassem sozinha.
Vou ser sincera. Não lembro de nada. Mal lembro de quem foi, o que falaram pra mim. Não lembro.
Sei que abaixei a cabeça e quando levantei, estava cercada de amigos. Amigos que eu nem nunca achei que iriam. Gente que eu estava brigada e que mesmo assim foi, pessoas que não via há anos.
Naquele momento, eu senti uma leveza que não sentia há muito tempo. O dia estava uma delícia, o ar gelado e um sol tímido entre as nuvens.
Depois do velório, não quis acompanhar o enterro, fiquei no banco, sentada, conversando com meus amigos.
Falando neles, não tenho palavras pra começar a agradecer. Não tenho. Eu aprendi o que é amizade em 5 dias. Amigos que dormiram comigo do dia que eu fiquei sabendo da previsão até o dia em que minha mãe foi embora, gente que não parava de me ligar, que correram pra minha casa assim que souberam. Anjos que cozinhavam pra mim, me obrigavam a comer e conseguiam me fazer rir. Conseguiram me fazer ficar em pé quando eu achava que nem sair da cama eu conseguiria. Juro por Deus, eu vou passar minha vida tentando retribuir todo o amor e carinho que estou recebendo, é o que tem me mantido. Não tenho mais amigos, tenho irmãos, irmãos escolhidos.
Minha irmã me segurou. Quis me poupar de todo e qualquer sofrimento, me colocou na frente dela, se preocupou comigo o tempo inteiro, do começo ao fim, se tornou a mulher que minha mãe nos ensinou a ser, se não tivesse ela não sei o que teria acontecido.
Minha terapeuta costuma falar que 'para chegar na parte boa, é preciso passar pela parte ruim'. A grande realidade é que já passei pela parte ruim, já estava afundada na parte ruim. Essa seria a parte 'boa'. Me recuso a ficar jogada na cama chorando, não vivendo. Minha mãe ficaria P DA VIDA se eu ficasse assim. Quero pensar que ela está bem agora. Está na praia que ela tanto amava, nadando no mar... Com o meu avô, minha avó e minha cachorra. O amor não é pra prender as pessoas, e sim para libertar.
Seria MUITO egoísta da minha parte querer minha mãe aqui sofrendo do jeito que ela estava, chorando quase todas as noites porque não aguentava mais.
Eu amo minha mãe mais do que tudo. É o amor mais puro e forte do universo. Já ouvi falar que almas gêmeas não são necessariamente um casal. Podem ser amigos, ou irmãos, uma avó e uma neta. No meu caso, era minha mãe.
Quero que ela fique bem acima de tudo, dane-se o sofrimento, só quero isso, ela merece mais do que ninguém. Por tudo que ela já fez por mim, o mínimo que eu posso fazer é deixar ela ir e ficar bem.
Sei que ela vai estar me olhando. Sei que ela viu eu pegar minha carta de motorista ontem, sei que ela vai ver eu fazer 20 anos daqui 1 mês. A única diferença é que agora ela vai ver de camarote.
Estrela no céu ela já tem, quer camarote melhor do que esse?
No dia 19 de maio, minha super heroína virou um super anjo. O nosso anjo.
Posso encher o peito e falar com todo o orgulho do mundo que minha mãe foi quem foi.
Ela venceu a doença, pode não ter se curado, mas não deixou sua luz apagar, isso é a maior vitória que alguém pode ter.
Sou a filha mais orgulhosa do universo, falarei da minha mãe com um sorriso no rosto sempre, e contarei como ela venceu o câncer, venceu na vida, venceu no trabalho de mãe.
Amo minha estrela e como prometido, no buraco do pedaço do meu coração que você levou junto, sempre vai ter um jardim de rosas, um jardim cheio de lembranças lindas, sorrisos, o seu sorriso.
Te amo mãe.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Sexta-feira Nada Santa

Como praticamente todas as famílias brasileiras, a minha também estava planejando um almoço de Páscoa. Vou ser sincera, odeio não poder comer carne e também acho que não estou devendo muito ao cara lá em cima, pelo contrário, mas não vou falar muito disso por respeito. Só queria que o dia passasse logo, mas não do jeito que passou. Na sexta-fera santa minha mãe foi hospitalizada. Uns dois dias antes da internação, ela começou a inchar muito, como ficamos preocupadas, fomos ao médico e descobrimos que não só ela teria que ficar internada, como também tinha trombose na veia cava. Como eu já sou praticamente uma médica formada em oncologia, baseada nesse meu 1 ano e meio de câncer, não esperava encontrar mais um potencial problema por causa do tumor, haha.
O que acontece é que a tal da veia cava leva o sangue para o fígado até chegar no coração. Essa putinha de veia (perdão) resolveu ficar com trombose. O pior não foi nem ela ficar internada, porque ela já ficou outras 3 vezes, mas sim o fato de que passaríamos a Páscoa que minha mãe tanto queria comemorar, no hospital. Ela estava tão empolgada que fui praticamente obrigada á tirar o sal do bacalhau e fiquei eternamente traumatizada por isso, o que eu não faço por amor? Haha.
No dia da Páscoa me toquei que não só era Dia Mundial do Combate ao Câncer, como também aniversário do meu amado avô, pai da minha mãe, que se foi em 2003. É tipo um combo, daqueles do videogame Mortal Kombat, o Fatality.
Odeio deixar minha mãe no hospital. Parece que apesar de ser o lugar que ela vai estar melhor cuidada, é o lugar que eu me sinto mais insegura de deixá-la. Com a ajuda da terapia, consegui entender que esse meu desconforto é causado pelo simples fato de eu achar que os médicos a tratam como 'mais uma' no hospital... Sendo que ela NÃO É, ELA É MINHA MÃE! Não peço que a tratem com preferência, pelo contrário, entendo que muitas pessoas estão passando pela mesma coisa ou ás vezes até pior do que a gente, mas tenho esse problema com hospitais.
Já fazem duas semana que ela está lá, sempre com um sorriso no rosto, impressionante. O orgulho que eu sinto da minha mãe ofusca qualquer medo que eu tenha. Ela têm recebido milhares de visitas, e vejo que todo esse amor é fruto do que ela plantou a vida toda dela, é a melhor mãe que uma filha pode pedir.
Outro dia ela veio me falar que teve um sonho com Nossa Senhora, com uma luz bem forte. Nem terminei de ouvir o sonho e já soltei um "Vira DE COSTAS pra luz, mãe! Ta?? Que bonita, aprecia, mas vai pra direção contrária!!"
O difícil é sair do hospital pra ir pra aula, ou para cumprir alguma outra obrigação que eu tenha. Parece que toda vez que eu saio do hospital, deixo uma parte do meu corpo lá. Sair do quarto dela, de perto dela é como puxar um íma grudado em um metal.
Um dia em especial, fui fazer uma das minhas aulas práticas (porque afinal, eventualmente eu quero tirar minha carta pra minha mãe me ver dirigir) e quase bati o carro várias vezes, não estava com cabeça, estava estressada, me sentindo sobrecarregada, minha irmã havia operado o dente e também estava preocupada. Ainda como se não bastasse, uma das pessoas nas quais eu quase bati o carro, desceu para tirar satisfação comigo. Nessas horas a vontade é de falar a verdade para a pessoa se sentir BEM culpada e calar a boca, mas não quero usar isso de desculpa.
 Na noite anterior á esse dia, minha mãe, bem á noitinha, desabafou. A sté estava em casa porque tinha ido lá de manhã e ficou a tarde também, nós revezamos. Minha mãe disse que não se sente ela mesma, que está gorda e feia e que nem aguenta se olhar no espelho. Fui ajudar ela a tomar se preparar para tomar banho e vi o inchaço na barriga dela e nas pernas. As veias que ligam a tal da veia ao fígado estavam mais aparentes. Me segurei muito para não chorar, não quero minha mãe assim, não quero ela passando por toda essa dor, eu não aguento, aguento qualquer coisa menos isso.
Depois dela tomar banho, ajudei ela a passar um creme maravilhoso do Mar Morto que eu comprei especialmente para caso as quimios deixassem a pele dela sensível. Passei o creme nela quase nem tocando, e mesmo assim não pude deixar de ver a cara de dor dela. A pele estava repuxando por causa dos líquidos retidos que estavam causando o inchaço, além da trombose.
O engraçado é que no meio de tanta merda, a gente consegue achar graça. Como sempre, estava penteando o cabelo dela, que por sinal já está bem crescidinho! Enquanto penteava, achei um nó!! Eu, minha irmã e minha mãe, três bobas comemorando! Passamos o dia jogando joguinhos no Ipad, vendo tv. Até já fingi que minha mãe queria jantar mais e quando a mulher trouxe o prato, eu que comi porque estava faminta! É o que temos pro momento, então vamos tirar algo de bom!
A verdade é que a essa altura do campeonato, não me importo da minha mãe passar o mês todo no hospital, quero que ela saia BEM, nada mais me importa.
Hoje de manhãzinha liguei para saber como ela estava e ela me disse que havia desinchado bastante, graças aos remédios! Fiquei tão feliz, tão aliviada.
Outra coisa boa que aconteceu hoje é que foi minha última aula prática, rumo á carta! Dirigir é uma coisa que está me fazendo muito bem, ainda mais em lugares tipo avenidas. Meu instrutor só ficava falando 'acelera! não pode ir devagar em avenida!', eu coitada, achando que já estava praticamente no rally dos sertões, acelerei mais. Me senti no Velozes e Furiosos, a 80 por hora, haha, mas vamos combinar, pra quem nunca dirigiu isso ja é progresso!
Para vocês verem, no fim das contas, existem problemas bem maiores do que não poder comer carne na sexta-feira santa.

terça-feira, 27 de março de 2012

A Palavra com "C"

Agora tudo é isso: câncer. Não consigo mais sair com alguém sem me perguntarem, não fico mais em casa sem ouvir a respeito, mal vejo tv sem ver alguém com câncer aparecendo.
Isso me deixa ligeiramente maluca. Previsões para o futuro, providências a serem tomadas para "o que virá". Já basta ter que lidar com a doença no presente, ainda preciso pensar no futuro? Nem consigo pensar em amanhã direito!
Quando eu comecei meu curso de jornalismo, no qual eu ainda era novata, senti um alívio imediato em entrar na sala de aula sem ninguém me conhecer. Ninguém sabia da minha mãe, ninguém me tratava com dó e muito menos com carinho excessivo. Não que isso me incomode (me tratarem com dó me irrita muito), mas têm pessoas que realmente me tratam como se eu fosse retardada e não conseguisse fazer nada. Outra coisa deliciosa é que eu não precisava ouvir a MALDITA palavra que mal consigo pronunciar até quando me perguntam meu signo (que por ironia é câncer).
Eu sinto como se tudo estivesse indo muito rápido e eu não consigo acompanhar. Parece que eu sou a pessoa mais perturbada e assustada com tudo isso, porque todos estão levando a vida com naturalidade. Parece que só eu me pergunto "QUE PORRA É ESSA QUE TÁ ACONTECENDO?". (desculpem pelo palavrão, mas o sentimento é bem esse). Eu entendo que minha família quer garantir meu futuro e o da minha irmã, mas prefiro que façam isso longe de mim. Não quero pensar no futuro e preciso que respeitem isso.
Hoje mesmo, pedi que minha mãe fosse menos explícita quando falasse o que pensa sobre o futuro. Eu já sei como provavelmente vai ser, mas não consigo nem dizer em voz alta, muito menos ouvir constantemente planos para um futuro no qual minha mãe não está.
Muita gente me fala que isso só vai me fazer mais forte, etc, mas não há um dia que passa que eu não me pergunte se vale mesmo a pena. Tá, eu vou ficar forte, mas eai? Então só porque eu fiquei forte tudo isso vai desaparecer da minha cabeça como se eu tivesse encontrado um agente do MIB homens de preto? NÃO!
Que bacana que eu vou ficar forte, mas eu juro que ás vezes eu queria só por 1 segundinho ser uma daquelas babacas fúteis que não tem preocupação ou perspectiva alguma sobre a vida, só 1 segundo... ou 1 minuto... ou 1 hora.
Me surpreende como existem pessoas que conseguem levar tudo isso com leveza. Não é leve.
Existe uma série que sempre passa na HBO, chama The Big C. A história fala sobre uma mulher com câncer praticamente terminal e mostra o dia-a-dia dela, mas com um tom engraçado. O pior de tudo é que realmente é uma série engraçada, apesar do tema mórbido, e eu passei a entender mais ainda agora. Provavelmente é o programa que tem alguma coisa relacionada com câncer, mais real que eu já vi. Mostra a dor, muita dor, mas também mostra coisas engraçadas, mostra que a vida continua. Mostra que tudo é sim muito rápido, e que não tem problema ficar um pouco de fora esperando o vagão passar.
Cá estou eu, sentada no chão, olhando o trem passar.