terça-feira, 27 de março de 2012

A Palavra com "C"

Agora tudo é isso: câncer. Não consigo mais sair com alguém sem me perguntarem, não fico mais em casa sem ouvir a respeito, mal vejo tv sem ver alguém com câncer aparecendo.
Isso me deixa ligeiramente maluca. Previsões para o futuro, providências a serem tomadas para "o que virá". Já basta ter que lidar com a doença no presente, ainda preciso pensar no futuro? Nem consigo pensar em amanhã direito!
Quando eu comecei meu curso de jornalismo, no qual eu ainda era novata, senti um alívio imediato em entrar na sala de aula sem ninguém me conhecer. Ninguém sabia da minha mãe, ninguém me tratava com dó e muito menos com carinho excessivo. Não que isso me incomode (me tratarem com dó me irrita muito), mas têm pessoas que realmente me tratam como se eu fosse retardada e não conseguisse fazer nada. Outra coisa deliciosa é que eu não precisava ouvir a MALDITA palavra que mal consigo pronunciar até quando me perguntam meu signo (que por ironia é câncer).
Eu sinto como se tudo estivesse indo muito rápido e eu não consigo acompanhar. Parece que eu sou a pessoa mais perturbada e assustada com tudo isso, porque todos estão levando a vida com naturalidade. Parece que só eu me pergunto "QUE PORRA É ESSA QUE TÁ ACONTECENDO?". (desculpem pelo palavrão, mas o sentimento é bem esse). Eu entendo que minha família quer garantir meu futuro e o da minha irmã, mas prefiro que façam isso longe de mim. Não quero pensar no futuro e preciso que respeitem isso.
Hoje mesmo, pedi que minha mãe fosse menos explícita quando falasse o que pensa sobre o futuro. Eu já sei como provavelmente vai ser, mas não consigo nem dizer em voz alta, muito menos ouvir constantemente planos para um futuro no qual minha mãe não está.
Muita gente me fala que isso só vai me fazer mais forte, etc, mas não há um dia que passa que eu não me pergunte se vale mesmo a pena. Tá, eu vou ficar forte, mas eai? Então só porque eu fiquei forte tudo isso vai desaparecer da minha cabeça como se eu tivesse encontrado um agente do MIB homens de preto? NÃO!
Que bacana que eu vou ficar forte, mas eu juro que ás vezes eu queria só por 1 segundinho ser uma daquelas babacas fúteis que não tem preocupação ou perspectiva alguma sobre a vida, só 1 segundo... ou 1 minuto... ou 1 hora.
Me surpreende como existem pessoas que conseguem levar tudo isso com leveza. Não é leve.
Existe uma série que sempre passa na HBO, chama The Big C. A história fala sobre uma mulher com câncer praticamente terminal e mostra o dia-a-dia dela, mas com um tom engraçado. O pior de tudo é que realmente é uma série engraçada, apesar do tema mórbido, e eu passei a entender mais ainda agora. Provavelmente é o programa que tem alguma coisa relacionada com câncer, mais real que eu já vi. Mostra a dor, muita dor, mas também mostra coisas engraçadas, mostra que a vida continua. Mostra que tudo é sim muito rápido, e que não tem problema ficar um pouco de fora esperando o vagão passar.
Cá estou eu, sentada no chão, olhando o trem passar.

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